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5 de dez. de 2014

Emoção e razão

Beije o papel
Ame a cadeira
Transe com a camiseta
Leia ou namore
Ativo ou passivo?
Árvore e folhas
Óculos ou terror?
Medo ou calor?
Viva o caderno
Mãe na cozinha
Cozinha ou mãe?
Matar a pia
Flores e jardins
Caixões e jardineiros
Cadáveres e gramas
Há rosas e lágrimas
Tempo: bom ou ruim?
É tudo uma questão de escolha

- M.H

12 de nov. de 2014

Preocupação

Ocupe-se!
Não se preocupe
Não, preocupe-se!
Não se preocupe ocupado
Nem se ocupe preocupado...

- M.H

19 de out. de 2014

Verdade ou mentira?

Desvelei a verdade
Uma verdade
Que ao piscar dos olhos
Falsificou-se

Por si só? - indagariam
Verdadeiramente diria que não
Mas se o fizesse
Não estaria eu mentindo?!

Que se curve a mentira!
De mim, para mim
Porque só lês verdades
Ao menos enquanto as escrevo

E quando fores ler
Já não me procures
Não mais estarei aí
Tudo que leste é uma falácia.

- M.H

12 de out. de 2014

Pós-modernidade

A pós-modernidade é um câncer moral. Como um parasita que habita teu corpo, ela o destrói pouco a pouco, espalhando se para os demais indivíduos na medida de uma metástase desenfreada. Estamos fadados ao insucesso; a desgraça é uma questão de tempo. A pergunta não é quando ela chegará, mas, sim, quando nos terá destruído por inteiro.

 - M.H

2 de ago. de 2014

O lixo

A vida é uma breve lixeira, onde os garis, breves transeuntes noturnos, diurnos, taciturnos, limpam teu ventre como as traças que comem teu ser. E tua breve existência esvai-se no saco infinito de lixos infindáveis; o caminhão passa, o caminhão vai. Quem fica? Apenas a lixeira, a se encher, a se esvaziar. Vês o plástico, vês o metal, mas nunca vês a vida. Objetos inertes; que fazes? Enche-os com teu afeto e os joga no lixo, no indefectível ciclo inefável de existência. Tu existe?

- M.H

29 de jul. de 2014

A chama

Eu sinto meu corpo morrer a cada segundo, a cada minuto, a cada hora. E a sensação não é tão ruim quanto parece. Uma simples chama que se apaga; indolor, inodora, insípida.

25 de jul. de 2014

A índia

Índia bela, não do rosto pardo, mas branco como as nuvens do céu. E seus olhos ondulam como os mares calmos do Mar Morto, que, a despeito de estarem parado, movimentam-se com tanta trepidez que não os consigo decifrar. Sua boca permanece macia, numa morbidez entorpecedora. Ah, índia minha, que fazes tu com essa lança? Não a aponte para cá!
Cinge-me com teus cabelos ao vento e mostra-me o que tens de me mostrar!

- M.H

9 de jul. de 2014

"Então assim são os fatos", disse Horácio. "Aceite-os, ou morra sem eles terem lhe aceitado". Pois, meu caro, entre o céu e a terra, acredite, há muito mais do que sonha a vossa vã ingenuidade.
- M.H

7 de jul. de 2014

A garfe

Agarro meu garfo e cuspo em sua garfe, para pô-la em minha boca e cuspí-la novamente. Assim, os outros podem saborear de tal sensação por igual.

- M.H

Uma história sobre a história de outras histórias - 1ª e 2ª partes

Ode ao som
A este
físico
característico
que eu ouço
ao me aproximar
O faço me afastando igualmente
Mas prefiro não o fazer
Ou me comprometeria
de tal forma
Que tais palavras
jamais seriam proferidas
Ou seriam?!
Que hei de responder.
Pois as mãos não falam
O que eu quero escrever.
Claro que não, oh histrião!
Sinônimo de bobo
Bobão!
Retorno ao assunto
Sendo que ele não retorna a mim.
Doença mental? Não.
Apenas um leve esquecimento.
Esperavas a rima
Assim como espero teu desgosto
Pois és um gajo bobo
Rapariga
Vai-te catar.
Que o clichê a afogue
Assim como eu hei de te afogar.


Vede novamente a história
Que tanto querias escutar
Não pretendo ser prolixo
Mas também não irei me encurtar.
Se tens paciência, fica e ouve
Se não a tem
Vá para o ponto do trem
Lugar invejável. O vá.
Já ouvi dizer
Que o trem
é um não lugar
Concordas?
Meu professor há de concordar
Gajo simpático
um pouco abstrato
Mas não é dele que irei lhe falar
Tudo bem, ele aqui também está presente
não fisicamente, apenas em mente
Então aqui vamos nós
estava a falar do som
sabes o que é? se não sabes escute
se não escutas
leia
pois ler, meu caro
é melhor do que ouvir
pra que audição
quando temos o coração
a palpitar e a rugir
queres ouvir?
então faça, abestado!

A droga

Nunca cheirei
Uma felicidade
Tão boa
quanto essa

branca
deliciosa
perigosa
perniciosa

abstinente
fico
ficarei
estou

porque não a tenho
porque não a quero
porque ela não existe
e nunca existirá

-M.H

31 de jan. de 2014

Cansaço

Eu sinto minha mão
Queimar no aço
Não de dor, não de calor
Apenas de cansaço

Escrevi muito
e de tanto escrever, cansei
pensei deveras no que fiz
e de tanto pensar, me fatiguei

agora descanso
agora relaxo
não escrevo o que fiz
não penso no que faço

vou-me deixando estar
estando bem, estando mal
deixar-me-ei descansar

- M.H

Ler

Leio palavras incertas
Inquietas, melhor
Palavras que não se calam
Palavras que não falam

Falam? Não
Mas dizem muito
Dizem mais do que quero saber
São mais do que quero ler

E nesse redemoinho, cá estou
A ler, a ouvir
Não falo; apenas ouço, apenas leio

Se eu falasse, o que diria?
Que não posso ler?
Ou que posso e não o faço?

-M.H

27 de jan. de 2014

Voracidade

Come-se uvas rapidamente pois há a certeza de que mais virão. Entretanto, a voracidade costuma ser tão grande que, quando menos se percebe, todo cacho já se foi; todas as uvas já foram devoradas.

- M.H

25 de jan. de 2014

Fluidez

O grande malefício que acomete-nos hoje é a liquidez. A fluidez. Os acontecimentos fluem com tamanha intensidade, que nos vemos obrigados a seguir a correnteza. Por várias vezes, pegamo-nos cansados, exaustos, sem fôlego para respirar. E, quando tentamos repousar, por mais breve que seja, eis que vêm a onda chamada modernidade e nos afoga mais uma vez. 

- M.H

21 de jan. de 2014

O vento e o mar

O vento veleja às palmeiras
E tudo que escuto é o som do ar
Vejo o oceano distante
E o vento lá a velejar

Vejo as árvores nus
Cobertas pelo gosto do mar
O vento veleja às palmeiras
E o que escuto é o som do ar

Imagino-me subindo nas palmeiras
Imagino-me cruzando o mar
Penso em velejar no vento
Mas tudo o que faço é observar

- M.H