loucura e razão

e no desatino em que me atino
minha loucura se torna razão
o que eu conheço sei que existe
o que desconheço sei que não
e eles que não o sabem
insistem que não tenho razão
porque os loucos sempre são loucos
por que os loucos, nunca o são?

eu não tenho água, disse o barco

vão-se as águas
ficam (a)os céus
sobram os barcos
o corpo, o espirito
e o devir
que os acompanha
ou melhor
que os faz acompanhá-lo.

- M.H

oceano deserto

atravessam mares
de águas nuas
turvas
por oceanos,
desertos
- desertos oceanos -
peixes
ávidos
- áridos -
sedentos,
afogados no oásis,
postos a nadar
são
peixes
- sem água -
em águas
sem mar

- M.H

A falta da falta

fez falta
a falta
e tanto faltou
que a falta voltou:
que falta!
que falta!
por que não faltas?

- M .H

O mar e o ser

As ondas quebram
Na brevidade da existência:
Elevam-se e se relevam
Descem e sobem
Nascem e morrem
Dissolvem-se.
Somos breves como as ondas
Tragados pelo mar.

- MH

Vaidade

A vaidade é um grito de sobrevivência ecoando no oceano pos-moderno: "eu existo, não me deixe afogar!".

Tempo

O relógio se inquieta
- o tempo também.
o relógio tem tempo.
o tempo não tem relógio.

O homem tem pressa
- o tempo também
o homem tem tempo
o tempo não tem o homem.

O tempo é inquieto
o tempo é apressado
o homem, o relógio: todos têm tempo
o tempo não tem nada.